Um dos episódios da vida de Cristo que mais tocam meu coração é aquele em que uma mulher adúltera é humilhada perante Ele (João 8:1-11). Como sempre, sem o mínimo de compaixão e com ar de superioridade, os escribas e fariseus estão prontos a apedrejá-la. Mas antes, é claro, não poderiam perder mais essa oportunidade de colocar Jesus contra a parede.
"Mestre, esta mulher foi surpreendida em ato de adultério. Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. E o senhor o que diz?" Com grande sabedoria e autocontrole, Jesus apenas se inclina e começa a escrever na areia. O quê? Nada mais nada menos do que os criminosos segredos de cada acusador. "Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela", desafia. Temendo que seus pecados ocultos fossem expostos perante a multidão, um a um, cabisbaixos e humilhados, retiram-se em silêncio. Então, voltando-se para a mulher, Jesus diz: "Eu também não a condeno. Agora vá e abandone sua vida de pecado."
Como você se sentiria se estivesse no lugar dessa mulher? Com certeza, extremamente grato e motivado a melhorar de vida, não é? Pois foi exatamente assim que ela se sentiu. "Isto foi para ela o início de uma nova vida, vida de pureza e paz, devotada ao serviço de Deus." (O Desejado de Todas as Nações, p. 462). E por que não agimos assim com os que se encontram em situação semelhante? Por que insistimos em enfatizar os erros do marido, da esposa, dos filhos ou dos pais, como se fôssemos perfeitos? Por que somos tão duros ao lidar com alguém que cometeu um deslize? Por que temos o hobby de julgar, comentar, divulgar ou mesmo ridicularizar os pontos fracos dos outros?
"Os que são mais prontos a acusar a outros e zelosos em os levar à justiça são freqüentemente em sua própria vida mais culpados que eles. (...) O amor cristão é tardio em censurar, pronto a perceber o arrependimento, pronto a perdoar, a animar, a pôr o transviado na vereda da santidade e a nela firmar-lhe os pés." (Ibidem, p. 462).
Envergonho-me ao lembrar quantas vezes agi como fariseu, contribuindo para o descrédito no cristianismo. Afinal, quem vai querer ser membro de uma religião cujos membros são fofoqueiros, críticos, orgulhosos e insensíveis? O problema, no entanto, não está no cristianismo, mas em nós, cristãos, que muitas vezes somos tão incoerentes, a ponto de pregarmos um amor que sequer conhecemos na prática.
Lembra-se do "novo" mandamento? "Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros." (João 13:34). Na verdade, ele nada tem de "novo". Quando Jesus fez essa declaração, ele o fez simplesmente porque os "cristãos" da época haviam reduzido a religião a um mero conjunto de regras. A Lei de Deus, na prática, havia perdido sua essência (o amor) dando lugar a uma religião formal e vazia – daí a necessidade de um "novo" mandamento.
Esse é o ideal de Deus para nós: que nos amemos uns aos outros como Ele nos amou. Somente esse tipo de amor nos habilitará a sermos cristãos coerentes, atuando como sal na terra e luz no mundo.
Marily Sales dos Reis
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