sexta-feira, dezembro 19, 2008

"Meu pai era alcoólatra"

Nasci num lar católico, em fevereiro de 1965, e meus pais eram muito religiosos. Naquele tempo, nossa vida era muito difícil, pois meu pai era alcoólatra e, apesar de ser um bom homem, quando chegava em casa alcoolizado batia na esposa e nas duas filhas adolescentes. Minha mãe lutava com muita dificuldade, trabalhando fora como costureira para manter as meninas. Ela confiava que Deus não apenas cuidaria das filhas, como também um dia transformaria o esposo e o faria deixar as bebidas.

Ela viveu essa luta por muitos anos, até que engravidou do meu irmão e escondeu a gravidez o máximo que pôde do meu pai. Certa vez, bêbado, ele tentou espancar minha mãe para que ela perdesse a criança. Por causa da rejeição do pai, a gravidez foi muito difícil. Mas quando nasceu o menino, ele o aceitou e o batizou com o nome dele mesmo, Geraldo. Com o nascimento dessa criança, a vida começou a melhorar. Quando o Geraldo tinha um ano e meio e as meninas já estavam grandes, papai quis ter outro menino. Recebi, então, o nome do meu avô, Antonio.

Um detalhe importante é que, 15 dias antes de minha mãe dar à luz o Geraldo, ela teve um sonho em que viu uma imagem de Jesus, que lhe era familiar, e viu também um bebê enrolado num manto branco. Ela perguntou à imagem por que ela teria aquele menino. A resposta foi que seria para “trazer a introdução”. Ela procurou o padre e as amigas da igreja em busca do significado do sonho. O que queria dizer “introdução”? Eles apenas disseram que introdução era o início de alguma coisa.

Realmente o Geraldo trouxe a “introdução”. A vida em casa começou a ficar melhor, materialmente falando, mas principalmente porque foi graças ao Geraldo que a mensagem adventista alcançou nossa família, quando ele tinha 18 anos. Ele conheceu essa mensagem por meio de um amigo que morava na mesma rua. Ele e eu nos batizamos sem que nosso pai soubesse. Tínhamos medo de ser expulsos de casa ou de apanhar dele. Mas a mãe e as irmãs nos apoiaram.

Um dia, o pai fez a pergunta que temíamos: “Vocês mudaram de religião?” O Geraldo respondeu que sim, e ele perguntou por que não havíamos dito isso a ele. Geraldo explicou que tínhamos medo que ele não entendesse e que nos punisse. Naquele momento, ele nos abraçou num dos momentos mais emocionantes da nossa vida e nos disse: “Filhos, quero dizer a vocês que o mesmo senhor lá no bar que me disse que vocês mudaram de religião disse também que vocês são os melhores rapazes do bairro.” O pai não apenas apoiou nossa decisão, como permitiu que mamãe fosse à igreja conosco e fosse batizada com nossas irmãs. Depois, os cunhados e os nossos sobrinhos também acabaram aceitando a mensagem adventista, cumprindo aquela “profecia” que a mãe teve antes do nascimento do Geraldo, de que ele seria a “introdução”.

Meu irmão sempre foi uma pessoa muito religiosa. Era professor da Escola Sabatina na igreja, pregava, e todo mundo dizia que ele deveria fazer teologia. Mas ele não tinha recursos e nunca havia saído de Minas, muito menos teria condições de ir para São Paulo. Certa vez, o pai brigou feio com a mãe. Ele estava bêbado e a ameaçou de morte. Foi quando o Geraldo o enfrentou. Eles não brigaram, mas o pai saiu para beber, e o Geraldo foi para o quintal de casa chorar e perguntar a Deus por que a vida tinha que ser daquele jeito, por que a família toda havia se batizado e o pai não. Foi quando Deus lhe disse que ele deveria estudar teologia.

Geraldo foi para a Universidade Adventista de São Paulo – Unasp (antigo IAE), como bolsista industriário. Depois descobriu a colportagem (venda de livros religiosos) e tornou-se aluno regular, capaz de pagar pelos estudos. O pai havia dito que, se meu irmão saísse de casa para estudar, que não voltasse nunca mais, e chegou a agredi-lo. Mas quando foi visitá-lo no colégio e viu o ambiente onde ele estava, o pai mudou de idéia e passou a apoiar o Geraldo. É verdade que ele nunca pôde ajudá-lo financeiramente, mas no dia da formatura do meu irmão, lá estava papai, que o abraçou chorando e disse que, no dia em que ele pudesse fazer um batismo, ele seria batizado por ele.

Posteriormente, tornei-me obreiro e pastor também, mas meu pai ainda sofria e fazia mamãe sofrer com o alcoolismo e o tabagismo. Não entendíamos como ela conseguia suportar tudo aquilo, e ela dizia que fazia por amor a ele e aos filhos e que, como Deus havia feito tanto pela família, também haveria de mudar o coração dele.

Até que, um dia, ficamos sabendo que papai estava com câncer. Eu estava morando no Rio de Janeiro nessa época e tive oportunidade de ir para outros lugares distantes, mas não fui, pois quis ficar perto dos meus pais, que moravam em Juiz de Fora. Nesse momento difícil, recebi um chamado para trabalhar exatamente naquela cidade.

Depois de seis meses lá, fiz uma semana de oração em minha antiga igreja, no bairro Santa Luzia, onde moravam meus pais. Meu pai quase não ia à igreja e eu preparei as mensagens da semana de oração pensando nele. Ele foi, assistiu a toda a programação e, naquela semana, houve uma transformação na vida dele. No sábado, quando fiz o apelo para o batismo, ele se levantou, foi à frente, me abraçou e disse no meu ouvido: “Filho, eu quero amar esse Jesus que você tanto ama e quero estar nesse Céu de que você tanto prega.” E me pediu para ser batizado.

Exatamente 15 dias depois da semana de oração, ele teve complicações: uma artéria onde estava localizado o câncer se rompeu. Naquele momento em que ele sangrava, minha mãe acariciou os braços que tantas vezes a haviam machucado e disse para ele: “Geraldo, não fique triste, porque vamos estar no Céu com nossos filhos.” Em resposta, ele fez que sim com a cabeça, deixou a bacia de sangue cair no chão e curvou-se nos braços de minha mãe, falecendo.

Tenho certeza de que meu pai morreu preparado. A conversão dele se deve, em primeiro lugar, ao milagre do poder do Espírito Santo, que pode levar à conversão toda e qualquer pessoa que se entregue a Ele. Deve-se, em segundo lugar, à fé e à coragem de uma mãe que suportou tudo, sofreu a vida inteira, mas foi fiel, porque confiava que Deus poderia transformar a vida de meu pai. Isso só aconteceu porque minha mãe fez a parte dela fielmente. Deus nunca deixou de responder às orações dela, que hoje tem boa saúde e diz que todo o sofrimento pelo qual passou não foi em vão. Ela diz que sua maior alegria é ter toda a família na igreja e dois filhos servindo a Deus no Ministério.

Acredito que vim ao mundo para pregar ao meu pai, a fim de que ele pudesse ter a chance de ser salvo. Um dia ele vai ser ressuscitado e poderei abraçá-lo. Enquanto isso, vou contando esse testemunho que tem ajudado outras pessoas a aceitar a Jesus como o Salvador capaz de transformar-lhes a vida.

Antonio Oliveira Tostes, diretor financeiro da Casa Publicadora Brasileira.

[Testemunho publicado no blog do Michelson Borges.]

A perfeita vontade de Deus

“Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12:2)

Sempre li esse verso e acreditei que ele indicava diversas variações da vontade de Deus para nossa vida. Para mim, significava que existe algo bom, algo aceitável e algo perfeito que Deus nos pede para fazer. Mas eu nunca consegui saber como chegar lá, até a semana passada.

No último fim de semana, orei por isso várias e várias vezes, por causa das mensagens de Jim Hohnberger e do que elas deveriam significar para mim e para minha família. Estou lendo o livro do Jim nesta semana, chamado Men of Power (Homens de Poder). Descobri (“admiti” talvez seja a palavra mais adequada) que eu NÃO sou realmente um homem de poder. Pelo menos, ainda não.

O conselho de Paulo a Timóteo (1 Timóteo 3:4, 5) nos diz que os homens que estão envolvidos no ministério da igreja devem ter seus lares em ordem. Deveríamos estar levando nossas famílias a Cristo – esse é o nosso PRINCIPAL trabalho. Como Abraão, devemos liderar nossos filhos e nossa família no caminho do Senhor (Gênesis 18:19). NADA deve tomar o lugar desse trabalho que devemos fazer com nossa família. Nem o trabalho, nem a igreja, nem o ministério, nem projetos comunitários, NADA. Como podemos ser bons de verdade se “ganhamos” o mundo para Cristo e perdemos nossas famílias? Além disso, se nossas famílias são um fracasso, que tipo de evangelho (boas novas) temos para compartilhar? Freqüentamos a igreja, dizemos as coisas certas, fazemos as programações certas e achamos que está tudo bem? Se somos realmente honestos conosco mesmos, acredito que não existe um entre vinte homens cristãos que possa de fato dizer que tem uma ligação vital e diária com Deus e que esteja seguindo o caminho que ELE traçou para nossas vidas, e não o caminho que nós escolhemos.

Considerando essas questões, tenho uma confissão a fazer. Sou uma fachada, uma fraude. É isso mesmo que você ouviu. Sou uma fachada, uma fraude... porque eu represento aqui (na internet) algo que eu não sou de verdade. É claro, eu sei as doutrinas e acredito nelas. Sei o que é verdade presente e creio nela. Sou um membro de igreja em “situação boa e regular”. Eu sei o que significa a verdadeira reforma de saúde, mas não vivo isso. Eu afirmo ser adventista, mas minha vida diz outra coisa. Em casa, eu me estresso com minha esposa e com meus filhos diariamente. Perco o controle e fico zangado com muita freqüência. O mesmo vale para o meu trabalho. Meu chefe nem sempre é a pessoa mais agradável do mundo para se trabalhar e, conseqüentemente, deixo que ele influencie minha atitude. Depois desconto nos meus subordinados. Acabei com o todo o bom testemunho que poderia ter dado para as pessoas com quem eu trabalho, e elas sabem bem disso. Em cada área da minha vida, tenho falhado em seguir o exemplo de Cristo. E agora, o que eu faço?

Jesus disse que, sem Ele, não podemos fazer NADA. Finalmente entendi essa afirmação e que ela pode se aplicar à minha vida. Sem permanecer nEle, diariamente, a cada momento, não tenho chance. Se Ele próprio não conseguiu sem uma comunhão constante com Seu Pai, como posso achar que eu conseguiria?

Então, que rumo devo seguir agora? Bem, há um ótimo texto que explica tudo isso. É o capítulo 4 do livro Vida Plena de Poder, intitulado “Tente Pouco e Realize Muito” [o cap. 3 do livro Fuga para Deus, chamado “Uma Vida de Simplicidade”, também fala sobre isso]. A conclusão é: devemos nos livrar de tudo (e eu realmente quero dizer “tudo”) em nossas vidas que fica entre nós e Deus, entre nós e a salvação de nossa família.

Amigos, é hora de abrir mão das coisas que achamos que são boas para obter o melhor que Jesus tem para nossa vida. Paulo diz: “Tudo me é permitido, mas nem tudo convém” (1 Coríntios 6:12). Ele tinha medo de ficar sob o poder de qualquer coisa que o afastasse de Cristo.

Tenho vergonha de admitir onde eu estive na minha caminhada cristã, mas não tenho vergonha de dizer que estou progredindo a cada dia. Estou me esforçando para alcançar a linha de chegada, para que, depois de correr nessa corrida, eu não seja desclassificado. Não quero que nada atrapalhe minha caminhada com Cristo. E agora percebo, mais do que nunca, a solene responsabilidade que foi colocada perante mim como o sumo-sacerdote do meu lar. Tenho uma obrigação perante meu Deus e minha família, e nada deve tomar esse lugar.

É com esse pensamento e essa convicção em mente que estou me desligando (da internet). Percebi que um dos entretenimentos que pessoalmente mais me distraem de Deus e da minha família é o computador. Quer seja algo bom (como este site) ou aceitável (como fazer pesquisas, checar e-mails, ler notícias, etc.), está roubando o tempo que eu deveria gastar com o que é O MELHOR. Eu não deixarei mais que essas coisas roubem o tempo que eu deveria dedicar a Deus e à minha família. Além disso, o que eu teria para compartilhar de fato com vocês, meus amigos, se o Espírito Santo não estiver morando dentro de mim e dirigindo minha vida em casa?

Embora eu goste muito de estar online, não posso continuar trocando as coisas mais importantes da vida por isso. Por favor, lembre-se de mim em suas orações enquanto viajo por essa estrada pouco transitada até o destino final, preparado pelo nosso Pai celestial. Que a vontade dEle seja feita e que eu encontre nEle a força para firmar minha vida diariamente, submetendo minha vontade à de Deus. Que Deus o ajude também a encontrar essa coragem incomum para fazer o mesmo.

Michael Arcand, mantenedor do blog Abundant Rest Ministries.

A verdadeira felicidade

Em 1998, eu tinha 18 anos e tudo para ser feliz. Saúde, uma família estruturada, boas condições e, o melhor, cresci na Igreja Adventista de Sétimo Dia. Na igreja, era participativa. Na época, atuava como professora da Classe de Adolescentes e também professora de inglês em um de nossos colégios. Dentro de alguns meses, iria realizar um sonho: estudar durante um ano na Inglaterra.

Mas não era feliz. Vivia meu pior momento espiritual. Minha vida era medíocre. Trabalhava de manhã, voltava para casa, dormia até a hora do jantar, depois ficava assistindo TV até às quatro da manhã. Voltava para meu quarto triste, pois sabia que minha vida tinha potencial para ser completamente diferente. Mas não conseguia sair daquele ciclo. Tentava estudar a Lição da Escola Sabatina ou ler a Bíblia, mas era tão insípido e chato. Claro, depois de horas de TV, impossível deleitar-se em leituras espirituais. Ao invés de clamar a Deus por ajuda, ficava brava com Ele, pois Ele sabia que meu coração estava se tornando duro e não fazia nada. Somente ia à igreja aos sábados e, mesmo assim, não porque tivesse vontade, mas sim para não deixar minha mãe triste. Ninguém sabia sobre minha situação, não queria que ninguém soubesse sobre meu fracasso espiritual.

Não cheguei a esse ponto do dia para a noite; houve um processo. Mas sem dúvida a falta de comunhão diária com Deus, como algo prioritário, foi crucial. Sem um relacionamento real, constante com Deus, minha vida, que tinha tanto potencial, transformou-se em um vazio infeliz e solitário, mas de alguma maneira me acomodei àquela situação.

Uma amiga me falara sobre o Congresso de Jovens Adventistas em Campos do Jordão. Fiquei animada, mas não tinha objetivo espiritual algum para ir. E por isso não obtive nada espiritualmente. Foi um dia agradável. Entretanto, aquela noite foi a mais inesperada de toda a minha vida. Na volta, o ônibus perdeu o freio e capotou. Uma tragédia. Quatorze pessoas morreram. Sobrevivi e minha vida jamais seria a mesma. O acidente deixou-me paraplégica.

Minha experiência com Deus começou a mudar no hospital. Numa determinada noite, desesperada para dormir, tive uma idéia: decidi repetir mentalmente Filipenses 4:13, o mais rápido possível. Sabe o que aconteceu? Nada! Não é assim que funciona. Respirei fundo e pensei: "Preciso de Jesus, mas não consigo falar com Ele. Preciso ir onde Ele está!" No dia seguinte, pedi uma Bíblia e comecei a ler Mateus. Eu continuava em claro durante as madrugadas, mas, ao invés de desespero, encontrei Jesus naquelas passagens tão conhecidas. Desde então, a leitura se tornou uma constante em minha vida.

Voltei para casa para uma realidade muito diferente. Parei de trabalhar e agora só saía de casa para ir ao médico, fazia fisioterapia todos os dias. Dentro de algum tempo, descobriríamos que, apesar de todos os esforços, meu caso é incurável para a medicina. Somente um milagre poderia me restabelecer.

Um ano depois, durante minha reabilitação, recebi um convite para nadar com outras pessoas com limitações físicas. Dentro de alguns meses comecei a participar de competições paradesportivas (para deficientes). Conquistei medalhas, alguns títulos brasileiros e internacionais. Durante os cinco anos seguintes, fui atleta e tive oportunidade de testemunhar para muitas pessoas sobre a santidade do sábado. Apesar de ter perdido muitas competições por causa do sábado, fui abençoada e conquistei o índice paraolímpico, graças ao qual cheguei ao nível mais alto do esporte: a Seleção Brasileira Paraolímpica de Natação.

Mesmo não tendo ido à Inglaterra, prestei a prova no Brasil e consegui o Certificado de Inglês Avançado da universidade inglesa que pretendia. Graças ao apoio da família e da minha melhor amiga, cursei a Faculdade de Turismo, deixei a natação e fui uma das primeiras a conseguir um estágio, a primeira a ser efetivada e na maior multinacional do setor. As bênçãos não pararam: recebi um convite para trabalhar como secretária executiva bilíngüe em uma multinacional norte-americana, onde estou há um ano e meio, realizada e bem-sucedida. Ganhei minha independência de volta, tenho meu carro adaptado e recentemente moro sozinha. Deus tem abençoado minha vida em todos os aspectos, tenho pessoas maravilhosas comigo, tive oportunidade de dar estudos bíblicos e quatro pessoas se batizaram. Deus é maravilhoso e com Ele aprendi:

1. O perigo da superficialidade

Se nosso relacionamento com Deus não é o que deveria ser, não é devido às circunstâncias, ao temperamento ou qualquer outra coisa. Se devemos nos esforçar para alguma coisa nesta vida, nosso esforço deve ser de comunhão com Deus diariamente, para aprofundarmos nossa experiência com Ele e com o próximo.

2. A reforma através da leitura

A leitura não é um fim em si mesma, mas é o grande trampolim que Deus usa para nos tirar do fundo do poço e nos fazer avançar em nossa vida cristã. Ela traz o conhecimento que leva a comunhão.

3. Não estar na situação mais desejada não significa ser infeliz

Todos temos sonhos e desejos não realizados. Todos temos nossas limitações. Enquanto Jesus não voltar, teremos de conviver com isso. Mas, dentro de nossas limitações, podemos crescer e ser felizes, entendendo que um milagre, um sonho realizado, seja qual for, não é fonte de felicidade. Se colocarmos nossas expectativas em sonhos e realizações, nos frustraremos. Nada aqui é perfeito ou duradouro o suficiente, pois a felicidade está em Jesus. Ele é capaz de nos dar felicidade e crescimento em todas as áreas de nossa vida, a despeito das circunstâncias indesejadas. Não desista de seu sonho; apenas não faça dele sua vida.

4. Não é preciso uma tragédia para que nossa experiência com Deus mude

Mesmo porque a dor, ao invés de nos aproximar de Deus, pode nos endurecer o coração. Conheço pessoas que acreditavam em Deus, antes de adquirir uma deficiência e agora não crêem mais. O ponto é o mesmo. Nenhum milagre, nenhuma alegria ou dor é capaz de fazer o que o relacionamento diário com Deus faz. Somente uma entrega e uma comunicação diária com Aquele que deseja nos fazer mais que vencedores podem mudar nossa experiência. Nossa vida pode ser muito melhor do que tem sido até agora, basta experimentar!

Fernanda Lima, 27 anos, bacharel em Turismo e secretária executiva bilingüe

[Testemunho publicado no blog do Michelson Borges.]

"Bibliologia molecular"


Tudo começou com o curso “Capacitação para professores de Biologia no âmbito da Microbiologia, Virologia e Imunologia”. Era um curso de duas semanas, de segunda a sábado. Como observo o sétimo dia como sagrado, fui pedir para ser dispensada nesse dia. Falei com o coordenador do curso e do Departamento de Virologia e Imunologia do Instituto de Microbiologia da UFRJ, professor Maulori Curié Cabral. Ele me pediu para explicar as doutrinas adventistas e eu o fiz em tempo recorde: 30 minutos! Então ele me perguntou como eu poderia acreditar na Bíblia e ainda iniciar a carreira científica (eu estava fazendo o mestrado na Escola de Química da UFRJ). Eu lhe disse que não havia problema algum; que uma complementava a outra. Ele deu um pulo, dizendo que isso era um absurdo, pois a Bíblia, segundo ele, é um compêndio de dogmas religiosos, enquanto a Ciência está baseada em fatos observáveis e reprodutíveis. Como ele estava sem tempo, disse-lhe que em outra oportunidade poderíamos conversar mais sobre o assunto. Ele concordou, e disse que iria pensar sobre o meu pedido.

No dia seguinte, a professora Maria Isabel estava falando sobre Microbiologia e contou um fato que é clássico nesse campo do conhecimento: o problema com o Hospital Geral de Viena, de 1844 a 1848, onde mulheres saudáveis, prontas para dar à luz, morriam logo após o parto. Um médico húngaro Iguaz Semmelweis, observando o fato, levantou como última hipótese (depois de tentar muitas outras) que os médicos deveriam desinfectar as mãos depois de realizar dissecações na sala de autópsia e antes de examinar as mulheres em trabalho de parto. Após este cuidado, as mortes foram reduzidas drasticamente. Nesse momento, o professor Maulori estava sentado atrás de mim. Virei-me e disse para ele que Semmelweis não tinha descoberto nada de novo, já que a Bíblia dizia isso há 3.500 anos. Mais uma vez ele se exaltou e perguntou: “Mas a Bíblia não é um livro que contém apenas dogmas religiosos?” Então perguntei se ele já havia lido a Bíblia alguma vez. Diante da sua negativa, tornei a perguntar: “Como, então, o senhor pode afirmar uma coisa dessas sem tê-la lido uma única vez?” Em seguida, ele me pediu para mostrar os textos bíblicos que falavam sobre este assunto.

No dia seguinte, levei não apenas os textos bíblicos, como também textos da escritora Ellen White. Ele ficou impressionado com o que leu, e se referiu à Bíblia como um “Tratado de Microbiologia Geral”. Disse ainda que os escritos da Sra. White eram de “alta cientificidade” – na época em que Pasteur, na França, publicava seus experimentos lançando as bases da Microbiologia!

Bem, sabemos que a comunicação científica na época de Pasteur era bem lenta. Portanto, quando eu disse ao professor que Ellen não tinha completado a 3ª série primária, ele respondeu que isso não era importante; bastava que o pai dela fosse médico. Então lhe disse que o pai dela era chapeleiro. Então, ele perguntou sobre a mãe de Ellen. Ao saber que ela era dona de casa, indagou: “Então, como ela soube dessas coisas?” Respondi que acreditamos que Deus transmitiu todo esse conhecimento a ela.

Lembrei-lhe que certa vez a Dra. Mirtha Eiroa havia levantado a questão quanto aos textos bíblicos. Ela disse num curso de toxi-infecções de origem alimentar que a Bíblia continha os primeiros registros sobre prevenção de contaminações microbianas. “Ninguém sabe como o povo hebreu teve acesso a tantas e tão precisas informações, mas pelo fato de terem levado a efeito essas instruções, não foram destruídos enquanto passavam pelo deserto”, afirmou ela. Disse ao professor Maulori que o mesmo Deus que dera as instruções para o povo hebreu, deu-as para Ellen White. Então ele respondeu: “Não tem como não acreditar.” E completou: “Menina, gostei de você; quero saber essas coisas que você sabe.”

Então o convidei (na verdade o desafiei) a estudar a Bíblia, e ele concordou. Ele começou se dizendo cético, para não dizer ateu. Estudamos as Escrituras durante dois anos e meio. Esquadrinhamos cada texto sobre Microbiologia, depois as profecias de Daniel, e então começamos o curso “Seminário do Apocalipse”. Enquanto estudávamos, ele me disse que estávamos certos em guardar o sábado, pois o ciclo de sete dias, na verdade, é o próprio ciclo biológico. Nenhuma virose ou infecção dura mais do que sete dias. Portanto, fazia sentido guardar o sábado (incluindo os animais, indicados na lei) para que todos os organismos complexos possam renovar suas células. Então lembrei-lhe que tinha dito exatamente isso quando ele me perguntou sobre minha escolha em seguir a carreira científica ou a Bíblia; que uma completa a outra!

Ele ficava cada vez mais encantado com o que aprendia. Chamava-me de “professora de Bibliologia Molecular”. Muitas vezes, quando levava-lhe os resultados dos experimentos para discutirmos, encontrava-o repetindo todo o estudo bíblico para a professora Maria Isabel e para uma aluna de mestrado. Uma vez, a professora Maria Isabel me disse que eu estava fazendo “milagres”, ao conseguir que o professor Maulori estudasse a Bíblia. E tem mais, ele estava agora apresentando aqueles textos bíblicos sobre Microbiologia para as suas turmas de graduação e pós-graduação!

Um dia, ele me perguntou sobre o Espírito Santo. Dei a explicação que normalmente costumamos dar, mas ele não se convenceu. Então achamos melhor continuar o estudo, e mais tarde voltar ao assunto. Em determinado momento, ele me interrompeu e, com olhos umedecidos, disse: “Quando aceitei o desafio de estudar a Bíblia, sabe qual era a minha intenção? Desestruturar seu credo. Mostrar que você estava atrelada a dogmas religiosos e, como tal, não poderia continuar na carreira científica. Eu seria o primeiro a te reprovar na defesa de tese; não precisaria nem me convidar para a banca, pois já saberia o resultado. Mas agora, acredito que a Bíblia é a verdade, e a única regra de fé e prática. Hoje, quem está desestruturado sou eu, e estou mais propenso a abrir mão do meu credo e aceitar o seu.” Então lhe disse: “Isso é o Espírito Santo atuando no senhor; esse é o trabalho dEle!” E ele acrescentou: “É bem provável; agora entendi o que é o Espírito Santo!”

Ele sempre me cobra a conclusão do estudo do Apocalipse, já que paramos na lição nº 13, pois passei em dois concursos que somam 56 horas, e comecei a trabalhar do outro lado da cidade. Não tinha mais como ir à universidade estudar com ele. Numa das últimas conversas que tivemos, ele, além de cobrar o estudo, disse-me que estava arrumando o horário na universidade para começar a guardar o sábado. Agora, só é preciso que alguém termine o estudo com ele e que ele tome a decisão final.

Em tempo: o professor Maulori fez parte da minha banca de tese. E fui aprovada com louvor!

Nádia Britto Panaino

(Detalhe: Nádia foi dispensada das aulas de sábado. E o professor Maulori reorganizou o curso de forma que ela não perdesse aula alguma, ou seja, as aulas de sábado foram alocadas na semana, e todos os alunos foram dispensados do sábado. Ele ainda explicou para a turma que estava fazendo aquilo por conta das convicções religiosas de Nádia.)

[Testemunho publicado no blog do Michelson Borges.]

"Deus não existe"

Aquele médico ficava irado quando Nádia e eu cantávamos baixinho alguns hinos religiosos durante o plantão noturno para torná-lo mais alegre e produtivo. Como enfermeiros, gostávamos desse gostoso 'passatempo' enquanto realizávamos nossas tarefas com alegria.

O médico, porém, contestava nossa atitude de 'crentes' e até nos repreendia dizendo que o lugar para cantar hinos era a igreja. Para não aborrecê-lo ou desrespeitá-lo, calávamos para logo depois, a pedido de alguns pacientes, voltarmos a cantar (na ausência dele, claro). Cético, ele dizia: “Deus não existe, e vocês são tolos em acreditar nEle.”

A rotina de um hospital é gratificante, mas na maioria das vezes é cansativa. Numa das noites exaustivas de plantão (após ter terminado meu noivado), estava completamente alheio ao que se passava no recinto daquela unidade de tratamento intensivo. Apenas o corpo estava presente. Minha mente vagava lá na cidade onde estava minha amada. De todos os hospitais em que eu havia trabalhado como enfermeiro, nenhum era tão diferente quanto aquele. Sua unidade de tratamento intensivo permitia aos pacientes tomar banho de sol sem sair totalmente do recinto e sem sair dos aparelhos conectados para monitorá-los ou manter-lhes com vida.

O posto de enfermagem, ou 'nave de comando', como era chamado, ficava num lugar estratégico, onde todos os pacientes eram monitorados por comandos eletrônicos e visualizados através dos boxes de vidro que os separavam. Os leitos possuíam rodas que permitiam locomovê-los para o banho, dentro da própria UTI, para o banho de sol, na sacada do prédio, ou mesmo para exames e cirurgias fora do recinto.

No leito também ficavam os prontuários com as anotações dos médicos e enfermeiros, para maior praticidade e segurança do paciente, relatos imediatos de cuidados, observações urgentes, solicitações médicas, checagem horária de cada procedimento: cuidados, curativos, aspirações, medições, medicamentos e outras rotinas. Quando necessário, os prontuários eram recolhidos para depois serem devolvidos nos seus devidos leitos. Quando eram preparadas as medicações de rotina via oral, venosa, intramuscular, etc., trazia-se o prontuário e certificava-se de que aquele prontuário era do paciente certo. Esse procedimento evitava incidentes que poderiam ser fatais, em caso de troca.

Era uma noite fria de junho. O céu estava lindo e muito estrelado. Após o preparo das medicações que estavam sob minha responsabilidade, voltei para devolver os prontuários aos devidos leitos. Apressei-me para pegar a bandeja de medicações, pois já passava de meia-noite e meia. Cheguei ao leito da primeira paciente a receber a medicação.

Ana Lúcia era uma linda menina de oito anos de idade. Sua recuperação estava quase completa e receberia alta em aproximadamente três dias. Todas as manhãs na hora da refeição, ela me pedia pêra ou maçã raspada na colher. Fiquei feliz pensando comigo mesmo que em breve mais uma paciente estaria em casa, recuperada e feliz com sua família. Verifiquei o prontuário, que indicava: penicilina E.V. (2 mg). Desconectei a tampinha que dava para a corrente sanguínea via soro e conectei a seringa, contendo a forte medicação. Em uma fração de segundos, veio a reação da paciente que, até então, dormia tranquilamente. O monitor cardíaco indicava uma fibrilação. O coração de Ana Lúcia estava sem ritmo. Instintivamente, incorporei a agilidade profissional a que estava habituado após anos de atuação. Parei a medicação e chequei o aparelho, os fios e a paciente – tudo isso apenas para constatar que ela estava tento uma parada cardiorrespiratória.

Na área da saúde, um simples erro pode custar uma vida. Em enfermagem, aprendi uma regra áurea para administração de medicação. São os cinco certos: paciente certo, medicamento certo, dosagem certa, via certa e horário certo. No caso de Ana Lúcia, chequei tudo, menos “paciente certo”.

Eu havia cometido um erro fatal, trocando o prontuário de Maria de Lourdes, uma senhora de 70 anos com osteomelite (infecção óssea), que tomava alta dose de penicilina, pelo de Ana Lúcia, que era altamente alérgica a penicilina.

Por alguns segundos, que na verdade pareceram uma eternidade, hesitei em chamar o médico. Eu precisava escolher entre esconder meu erro e me 'safar' ou cumprir com a ética e ser preso, perdendo assim meu registro profissional. Minha vida parecia ter acabado. Mesmo assim, preferi assumir o risco. Acionei o médico de plantão, que já estava no local de repouso dos plantonistas. Pra minha surpresa, era o médico ateu que detestava crente e ficava bravo quando cantávamos no plantão.

Quando soube a razão da parada cardiorrespiratória na paciente, que estava prestes a receber alta, ele ficou irado. Xingou-me o quanto pôde. Ameaçou me processar, caso a paciente viesse a morrer. Nádia, a enfermeira que sempre cantava comigo, agiu bondosamente, apoiando-me o tempo todo.

Tentamos todos os procedimentos de ressuscitação cardiorrespiratória, mas em vão. O médico acionou o laboratório por três vezes, coletando sangue e classificando-o. O resultado foi alta dosagem de penicilina no sangue. Eu estava incriminado. Após três horas de manobra cardíaca, o médico deu o diagnóstico: a paciente estava morta. Pude ver seu olhar agudo me encarando. Colocando o dedo rente a meu nariz, ele vociferou: “Quero ver teu Deus te livrar dessa!”

O chão saíra de sob meus pés. Parecia que eu estava flutuando. Uma sensação de angústia e desespero tomou conta de mim. Afastei-me do leito enquanto Nádia ainda fazia os procedimentos terminais. Parei na sacada que dava para fora do prédio e olhei para o céu, fazendo a oração mais incrédula da minha vida: “Deus, se o Senhor existe, manifeste-Se agora!”

Em uma fração de segundos, com a oração ainda em minha mente, aconteceu o impossível. Ouvi o monitor cardíaco sinalizando. Por providência, ele ainda não havia sido desligado. Apenas dois pacientes estavam recebendo assistência monitorizada; e um deles era Ana Lúcia. Não foi difícil reconhecer os batimentos cardíacos dela. Sem querer acreditar, fui virando lentamente para onde estava a paciente. Nádia ainda estava lá tomando as últimas providências para o preparo do corpo. Após comprovar que o coraçãozinho de Ana Lúcia estava realmente batendo depois de três horas parado, Nádia olhou para mim. Com lágrimas nos olhos, ela perguntou: “Você estava orando, não estava?” Ainda sem acreditar no resultado daquela oração tão arrogante, balancei a cabeça confirmando. Com fé ou não, o fato era que Deus acabara de realizar um grande milagre.

Chamamos aquele médico às pressas. Ele estava escrevendo tudo que podia para me incriminar. Ao chegar próximo ao leito, ele tomou o pulso de Ana Lúcia bruscamente, demonstrando que não acreditava em nada do que havíamos dito. Espantado pelo que sentiu, soltou a mão dela e pôs os dedos em sua jugular. Ainda sem querer acreditar, ele disse: “O coração pode estar batendo novamente, mas a paciente está com morte cerebral.”

Foram feitos exames de pupila e reflexo, e o sangue foi novamente colhido e classificado três vezes, apenas para confirmar que nenhuma toxicidade fora encontrada. Eram quase seis horas da manhã. Ainda cético, aquele médico murmurou que a menina teria graves seqüelas: “O cérebro deve estar seriamente afetado por falta de oxigênio.”

Minha fé, antes arrasada, recuperara-se totalmente após presenciar a visita do Doador da Vida. Com convicção, respondi: “Doutor, é melhor o senhor acreditar em Deus, pois Ele visitou esse leito hoje e realizou um milagre na nossa frente. Esta menina está viva, e bem viva. Não haverá nenhuma seqüela. Deus tirou até a toxicidade do sangue dela.”

Às seis horas, como de costume, Ana Lúcia acordou e olhou para mim, com um olhar de quem dormira a noite toda, e disse: “Tio Argeu, me dá pêra raspada na colher?” Meu coração bateu forte. Não consegui mais conter a emoção. Saí para a sacada e chorei muito. Meu Deus mais uma vez não me decepcionara, mesmo em meio à minha incredulidade. “Perdão, Senhor”, eu disse chorando cada vez mais alto. “Perdão por duvidar da Tua existência.”

A pequena Ana Lúcia recebeu alta exatamente nos três dias esperados, após terem sido feitas baterias de exames, apenas para constatar que, quando Deus opera, Ele opera por completo. Nem sequer houve fraturas em suas costelas, devido às fortes massagens cardíacas. Seria até desnecessário dizer que aquele médico tão cético deixou de ser ateu. Após a procura de muitas pessoas que pediam orações, montamos naquele hospital um centro de apoio espiritual.

Quanto à minha noiva, casamo-nos pouco tempo depois e hoje formamos uma bela família, com mais quatro maravilhosos filhos, dois dos quais são um casal de gêmeos.

Deus me ensinou ricas lições naquele hospital. Ricos relacionamentos e fortes laços de amizade foram formados. Muitos outros milagres aconteceram naquele hospital enquanto trabalhei lá. Não foram realizados para minha satisfação nem tampouco por mim, mas sim em prol das carentes pessoas incrédulas e cheias de crendices que eram internadas ali.

Como foi no tempo dos apóstolos, Deus ainda Se manifesta para fazer maravilhas entre nós e por nós. A razão é simples: Ele nos ama.
Sua divindade é manifesta sempre que se faz necessário e de forma extraordinária.

Não podemos usar Deus; mas mesmo que não acreditemos, Ele pode nos usar.

Deus seja louvado, pois Ele existe!

Argeu Lopes Freitas, pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

[Testemunho publicado no blog do Michelson Borges.]

Uma carona que caiu do Céu

Não gosto muito de escrever, mas me sinto na obrigação de contar o que aconteceu comigo na última quinta-feira, 7 de junho de 2007. Nesse feriado, estava marcado o Adolecamp da Associação Paulista Central da IASD [acampamento de adolescentes], e eu estava inscrita para o evento. Me inscrevi com o pessoal de Jundiaí, mas,como seria na cidade de Leme, não poderia ir com eles, pois não era caminho. Tentei entrar em contato com várias pessoas aqui do Unasp durante a semana para que eu pudesse ir com eles, mas nada dava certo. Mesmo assim, eu não deixaria de ir no Adolecamp.

Resolvi ir de ônibus de linha mesmo, sozinha. Fui até Limeira e peguei o ônibus rumo à cidade de Leme. Na minha ficha de inscrição, estava escrito que a Estância dos Jequitibás era na Rodovia Anhangüera, km 189. Beleza! Desci no quilômetro indicado, com minha mala e uma barraca. Até aí tudo bem, mas nada de ver a tal estância quando desci do ônibus. Comecei a ficar apavorada, sozinha, com mala, barraca, sem saber onde era o tal lugar. Tentei ligar para os meus amigos que estavam lá no local, para saber onde era exatamente, mas nenhum celular estava na área de cobertura.

Saí da rodovia e entrei na cidade. Passou um cara e mexeu comigo; fiquei com mais medo ainda. Cheguei a uma praça e perguntei para algumas pessoas se sabiam me informar onde era a Estância dos Jequitibás. Ninguém sabia. Tentei ligar para meu pai, minha mãe, sei lá, já não sabia mais o que fazer. Estava até pensando em voltar para a rodovia e voltar para casa. O problema é que não sabia nem o horário em que passaria ônibus e teria que ficar esperando sozinha na pista, o que seria bem perigoso.

Continuei perguntando para as pessoas na rua, e nada. Eu estava muito nervosa, com medo, chorava e orava... Meu Deus, me ajuda! O que eu estou fazendo aqui? Me indicaram um posto de gasolina no fim da rua; talvez os frentistas soubessem onde era o local.

Continuei caminhando, já estava cansada. Cheguei lá ainda com esperança de que estivesse perto e que eles soubessem onde era a estância. Perguntei, e eles falaram que nunca tinham ouvido falar sobre essa estância e que, inclusive, já haviam passado várias pessoas perguntando em vans, carros e ônibus. Pronto, eu estava perdida! Eles sugeriram que eu atravessasse a Anhangüera e fosse até a delegacia, mais ou menos a um quilômetro dali. Lá, com certeza, eles poderiam me informar. Mas como eu iria até lá? Já não agüentava mais. Saí chorando e orando.

Minha última chance, pensei. Vou até lá, eles me falam onde é a estância e peço para me levarem até o local. De repente, encostou um carro na minha frente (nem lembro que carro era), com um homem de aparentemente 25 ou 30 anos, estatura média, cabelos castanhos claros e olhos verdes. Perguntou: "Moça, aonde você está indo?" Bom, falei com toda felicidade: "Para a estância dos Jequitibás! Você sabe onde fica?" Ele respondeu: "Não, mas podemos descobrir." Então eu falei que estava indo lá na delegacia para perguntar. E ele disse: "Entra. Eu te dou uma carona."

Naquele momento, fiquei em dúvida: aceitava ou não? Mas ou era aquilo ou nada. Será que eu devia arriscar? Aqui no Unasp estamos acostumados a pegar carona, mas com pessoas conhecidas, carros identificados com adesivos; o local é conhecido e geralmente estamos acompanhados. Agora era diferente. Era um lugar estranho, uma pessoa estranha, e eu estava sozinha. Bem, olhei bem para ele, pensei, e tive que confiar em Deus. Falei: "Tudo bem, eu aceito." Entrei no carro, ele colocou minha mala e a barraca no banco de trás e fomos até a delegacia (e eu supernervosa).

Quando chegamos, ele disse: "Vou descer pra perguntar com você." O policial nos informou que a Estância dos Jequitibás ficava no km 199, ou seja, 10 km para frente. Voltamos para o carro. O homem falou: "Eu te levo lá." Eu não teria condições de caminhar aquilo tudo; então aceitei, mas fiquei um tanto receosa. Ele disse que estava indo para tal cidade (nem lembro qual). Perguntei se era caminho para ele me levar. Ele falou: "Não, não é caminho, mas eu te levo."

No trajeto, me passava tudo de mal pela cabeça. Já pensou se ele me levasse para outro lugar? Abusasse de mim? Eu não falava nada, apenas respondia o que ele me perguntava; não queria dar muitas informações a meu respeito.

Quando chegamos ao quilômetro indicado, vi uma plaquinha com a inscrição "Adolecamp". Falei para ele que era ali, então ele entrou na estrada. Mas mal sabia eu que ainda tinha um trecho de terra bem grande pela frente. Quando ele entrou naquela estradinha, aí sim meu coração disparou. Eu estava mais do que com medo e não parava de orar por um minuto sequer. Estava atenta a cada nova placa e não via a hora de chegar ao local do acampamento. Estava com medo de que ele não seguisse a informação da placa e acabasse me levando para outro lugar, já que a estrada era repleta de bifurcações.

Foram mais ou menos uns 8 km de estrada de chão, e parece que passamos uma hora naquela estradinha, com muitos canaviais em volta. Enfim, chegamos! Pude avistar o acampamento e a entrada dele. Falei para o rapaz que ele podia me deixar ali na entrada mesmo, e ele falou: "Não! Eu vou te deixar lá dentro." Tudo bem, agora acho que ele não iria fazer nada comigo mesmo. Entramos, ele parou o carro perto de um quiosque, desceu minha bagagem e se dirigiu até mim. Eu, com um sorriso no rosto, mais do que feliz... Afinal, agora estava a salvo dentro do local do acampamento. Falei para ele: "Puxa, eu não sei nem como agradecer! Valeu mesmo! Muito obrigada!" E ele, com um sorriso no rosto, simplesmente respondeu: "Você precisa acreditar em anjos! Eles existem!"

Naquele momento, não vi mais nada, fechei os olhos, comecei a chorar e agradecer a proteção de Deus.

Só no dia seguinte consegui entrar em contato com minha mãe através do celular. Contei toda a história para ela. No mesmo instante, minha mãe disse: "Ellen, era um anjo!" Eu falei: "Eu também acho mãe, mas talvez tenha sido só uma pessoa de coração bom." Então ela rebateu: "Era um anjo, sim! Todos os dias eu oro por ti; e ontem pela manhã eu estava preocupada de como você iria até o acampamento, e eu orei pedindo que os anjos te acompanhassem."

Se eu tinha alguma dúvida, agora estava tudo bem claro para mim. Novamente comecei a chorar e agradecer a Deus. Acredito que Deus enviou um anjo para me cuidar e me levar até o local do acampamento.

Sabe? Nasci num lar adventista, escutei vários testemunhos durante minha vida e sempre parava para pensar: "Ah, isso nunca vai acontecer comigo, só acontece com os outros. Será que algum dia terei um testemunho para contar?" Pois agora eu tinha. E ele era real! Deus, com certeza, guia nossa vida da melhor forma, sempre. Podemos não entender agora, mas Ele sabe o que é melhor para cada um de nós. Agora entendo por que deu tudo errado pra eu conseguir um modo de ir para o Adolecamp; por que não consegui falar com ninguém pelo celular enquanto estava perdida; por que Deus quis que eu fosse ao Adolecamp, mesmo sem ter idade para isso. Deus tinha um plano para mim. Talvez eu tenha ido nesse acampamento só para passar por essa experiência. Talvez tenha ido para fortalecer mais minha fé em Deus. Talvez para contar minha experiência para todos os acampantes no encerramento do Adolecamp. Talvez para contar aos outros, não sei, mas Deus com certeza sabe.

Muito obrigada, Senhor, por Tua proteção! Obrigada porque Tu nunca deixarás Teus filhos desamparados. Tu tens um plano para cada um de nós. Obrigada, Senhor!

Ellen Silva dos Reis, estudante de Pedagogia no Unasp (e minha cunhadinha).

Os planos de Deus são melhores

O ano era 1998. Eu tinha 24 anos, era técnico em enfermagem e tinha um bom emprego na saúde pública municipal havia dois anos e meio. Nesse pouco tempo, em um universo de concorrência com pessoas de 77 unidades básicas de saúde, fui convidado a trabalhar na Secretaria Municipal de Saúde, permanecendo lá por alguns meses. Confesso que, ao ter essa oportunidade, imaginei ser a “chance da minha vida”, mas você vai perceber que Deus tinha planos muito melhores para mim. Quando nos colocamos em Seus braços para que nos carregue, Deus nos leva a lugares aos quais nunca chegaríamos caminhando sozinhos. E assim Ele me carregou em diversas situações.

Uma de minhas irmãs estava para completar 14 anos. Viajei para comemorar seu aniversário, ver meus pais e conhecer a cidade em que estavam morando. Durante os dias em que estivemos juntos, eles comentaram sobre as boas condições que a cidade oferecia, tentando despertar em mim o desejo de morar próximo a eles. Mesmo amando-os, eles não conseguiram o que pretendiam, pois não senti o mínimo desejo de morar ali, e dias depois voltei às atividades no Estado onde morava.

O que eu não sabia é que, a despeito de haver ignorado aquela cidade, Deus estava trabalhando nos bastidores e, no ano seguinte, colocou no meu coração um desejo e uma decisão totalmente contrária aos meus planos iniciais.

Acordei numa manhã de maio impressionado e confuso por estar sentindo o desejo de ir para aquela cidadezinha. Esse desejo se intensificou tanto que, em uma semana, decidi abandonar todos os meus planos e com o apoio de minha namorada – hoje esposa – pedi exoneração do cargo público e parti para a cidade dos meus pais. Uma semana antes, céu azul; agora estava num caminho no qual só via raios e trovões. O que o Senhor estava querendo comigo? Não tinha a menor idéia, até que duas semanas depois estava com meus pais e uma das irmãs na cozinha, numa manhã de domingo, quando tudo aconteceu.

Meu pai estava preparado para sair a fim de dar estudos bíblicos, e nós, conversando em volta da mesa. De repente, ele começou a cair. Corri e o segurei. Ele estava tendo uma parada cardíaca, com o rosto torcido para o lado como quem sofre uma convulsão. Estava com o corpo totalmente enrijecido e, logo depois, parecia um boneco de pano.

Arrastei-o até o tapete da sala e, ao verificar seus batimentos cardíacos, descobri que realmente o coração havia parado, assim como a respiração. Não acreditava que Deus tinha provocado tantas mudanças em minha vida para me fazer vê-lo morrer em meus braços. Rapidamente, com a frieza que hoje reconheço ter sido proporcionada por Deus, “esqueci” que aquele homem era meu pai e apliquei-lhe as técnicas de reanimação por aproximadamente três minutos, até que os batimentos cardíacos e a respiração voltaram. Os vizinhos nos levaram ao pronto-socorro local e, após alguns exames, foi constatado que a falta da reanimação teria sido fatal.

A dor no tórax de meu pai foi intensa durante meses, em razão da força na reanimação. Mas hoje ele está vivo e, como sempre, dedicando a vida a levar o amor de Deus a muitas pessoas. Quanto a mim, hoje, sim, sou feliz e agradecido a Deus por bênçãos incontáveis: estar próximo à minha família e casado com a pessoa que me ama a ponto de superar a distância de 900 km de sua família. E mais: Deus é tão maravilhoso que a “chance da minha vida”, que imaginei ter deixado para trás, agora, sim, Ele me deu – participar do crescimento de Sua obra trabalhando em uma de Suas instituições.

É verdade que Deus nos dá o livre-arbítrio, porém, quando escolhemos orar pedindo proteção, orientação, que Ele dirija nossos sonhos e projetos, assinamos uma “procuração” para que o Senhor dirija nossa vida. Isso inclui decisões que não compreendemos inicialmente e talvez nem apreciemos. Mas, se as seguirmos, teremos um futuro abençoado.

Humanamente falando, foi difícil deixar minhas vontades de lado, mas Deus, em Sua infinita sabedoria, me preparou, desde criança, com o desejo de ser enfermeiro e me conduziu para perto de minha família. No momento certo, Ele me lembrou que, se peço que me guie, preciso descansar em Seus braços. Portanto, quando você passar por momentos que não consegue compreender, lembre-se: Deus trabalha nos bastidores e, mais cedo ou mais tarde, apresentará a você o resultado em forma de bênçãos. Pense nisso!

Vagner Zil, operador de televendas da Casa Publicadora Brasileira e mantenedor do blog www.orepormim.blogspot.com.

Jesus continua de braços abertos

Aos 15 anos de idade, em meio aos conflitos existenciais da adolescência, conheci a Jesus Cristo e Sua maravilhosa mensagem de salvação. Naquela época, eu havia alcançado a tão sonhada liberdade concedida por meus pais para, finalmente, poder sair sozinha com minhas amigas. Eu esperava que isso me trouxesse alegria; no entanto, só me fazia sentir um grande vazio e tremenda frustração.

Certa noite, ao chegar em casa depois de uma festa, deparei-me com uma Bíblia sobre a mesa. Talvez ela sempre estivesse ali, mas naquela noite chamou-me a atenção de uma forma irresistível. Parecia ouvir uma voz a dizer-me: “Aqui está a solução para esse vazio que você sente.” Quando me dei por conta, já a estava lendo, e comecei logo pelo Apocalipse.

O que li me deixou assustada. Ao invés de sentir a paz que tanto desejava, fiquei preocupada com os acontecimentos futuros preditos por aquele livro: pragas sobre a Terra, destruição, terremotos... Não consegui dormir e orei fervorosamente como nunca havia feito antes. Supliquei a Deus para que me ajudasse a entender o significado de tudo aquilo e estar entre Seu povo.

Nas semanas seguintes, aquelas imagens apocalípticas não saíam de minha mente. Passei a ler a Bíblia todos os dias e repetia a mesma oração, pedindo esclarecimento especialmente em relação ao livro da Revelação. E Deus não tardou em responder-me. Cerca de um mês depois, dois adventistas foram à nossa casa e nos ofereceram um curso sobre... o Apocalipse!

Fiquei emocionada e muito feliz ao perceber que Deus realmente estava me ouvindo e Se importava comigo. Meu pai e eu prontamente aceitamos aquele convite e, no sábado seguinte, iniciamos o estudo bíblico. A cada lição eu ficava maravilhada em poder compreender a Palavra de Deus e ver que o Apocalipse, ao contrário do que eu pensava antes, é um livro que traz esperança e conforto às pessoas.

É verdade que, com isso, vieram também as perseguições por parte dos parentes e amigos. Pude ver que o único Amigo verdadeiro que eu tinha era Jesus. Muitos deixaram de falar comigo, e os que ainda mantinham contato não cessavam de ridicularizar minha nova fé. Nesse tempo comecei a perceber que seguir a Cristo implica em carregar uma cruz. Ainda assim, o pior de tudo era a luta contra o meu próprio eu. Entendi o que era querer fazer o bem e só obter como resultado o mal.

Em meio a esse dilema, desejava muito poder encontrar alguém que me entendesse. Infelizmente, as pessoas só sabiam ditar-me regras de conduta: o que vestir, o que falar, o que comer... Importante como sejam essas coisas, creio não ter sido a maneira nem o momento certos para ouvi-las com tanta ênfase. Parecia-me impossível alcançar a salvação sem cumprir todas aquelas regras; o Céu estava cada vez mais e mais distante.

Com o tempo – é triste dizê-lo –, minha amizade com Jesus foi se tornando superficial. Minhas forças estavam concentradas na tentativa de ser perfeita e acabei esquecendo de amar e de me relacionar com meu Salvador. Meu semblante também se modificou; vivia triste e abatida. Minha mãe e amigos imploravam-me para que abandonasse essa religião que, segundo eles, estava roubando minha juventude e minha alegria de viver. Relutante, acabei cedendo aos convites do inimigo e abandonei a Igreja, para desapontamento de meu pai e confirmação da suspeita de alguns quanto à minha sinceridade. Mas Deus conhecia meu coração.

Nunca consegui me divertir como meus amigos, pois sabia que ali não era meu lugar. Sentia medo de sair às ruas e morrer perdida. Uma dor e uma saudade indescritíveis invadiam-me o ser. De vez em quando, ia desesperadamente visitar a igreja, com a esperança de que alguma coisa mudasse dentro de mim, e eu encontrasse novamente o prazer de estar lá. Mas, quando chegava, sempre tinha vontade de fugir daqueles olhos curiosos e, algumas vezes, acusadores. Não havia salvação para mim, eu pensava.

Felizmente, Jesus nunca pensou assim. Mesmo quando somos infiéis, Ele continua fiel. Todos os dias em que estive longe, Ele não só ficou me esperando de braços abertos, mas veio em meu resgate. Nunca cessou de mostrar-me Seu amor e de me chamar para perto de Si.

Um dia aconteceu algo muito triste com a mãe de minha melhor amiga. Surpreendentemente, ela pediu-me que orasse com ela em favor da mãe e lhe desse estudos bíblicos. Era inacreditável! Aquela que sempre criticara minhas atitudes e nunca aceitara que eu lhe falasse de Jesus, estava agora disposta a buscar ajuda divina para sua mãe.

Aquilo me deixou atônita e feliz ao mesmo tempo. Como eu, tão pecadora e distante de Cristo, poderia interceder por ela? Mesmo assim, dobramos os joelhos e pedimos perdão por nossos pecados. Senti a luz do Céu inundar as trevas de minha vida. Dali em diante, todos os dias ficávamos até tarde da noite orando e estudando a Palavra de Deus. Começamos a freqüentar regularmente a igreja e decidimo-nos pelo batismo.

Alguns ainda duvidavam de minha conversão e achavam que eu não me firmaria nos caminhos de Deus. Mas agora era diferente. Eu tinha alguém ao meu lado; alguém que entendia minhas lutas. Orávamos uma pela outra e nos animávamos mutuamente. Naquela ocasião feliz conheci meu futuro esposo, que também ajudou muito a me aproximar de Cristo.

Começamos a dar estudos bíblicos, fazer outras atividades missionárias e assumir cargos na igreja. Dessa forma, passei a ser um instrumento nas mãos de Jesus, o que fortalecia cada vez mais minha fé.

Sem fazer esforço e nem perceber, estava cumprindo todas as “normas” da igreja, que na verdade são o fruto do Espírito. Compreendi que, quando centralizamos nossa atenção em estar perto de Jesus, a obediência passa a ser natural e prazerosa; é a conseqüência de um coração transformado. No entanto, ao ser imposta uma regra de conduta, isso se torna um fardo impossível de ser carregado.

Nossos jovens não precisam ser lembrados a todo momento do que é certo e errado. Por mais que sejam inventadas desculpas para o pecado, eles sabem discernir perfeitamente entre o bem e o mal.

É preciso fazê-los se apaixonar por Jesus e ter envolvimento ativo em Sua Obra. E para isso é necessário um amparo especial por parte dos membros da igreja. Quem pensa estar um degrau acima na escada da santificação não fique atirando “pedras” nos que estão abaixo. Pelo contrário, estenda a mão e ajude os que tentam subir.

Não consideremos uma pessoa como não-convertida pelo fato de ela não conseguir ser aquilo que gostaríamos que fosse. Tentemos nos colocar no lugar dela; coloquemo-nos à sua disposição para ajudar no que for possível. Oremos uns pelos outros, e uns com os outros. Assim, todos terão prazer em pertencer à maravilhosa família cristã.

Débora Tatiane Martins Borges, pedagoga e co-autora do e-book Deus nos Uniu.

Mas Senhor

Eu já dei muitas desculpas para o Senhor ao longo dos anos. Algumas de minhas desculpas foram assim: "Mas, Senhor, queres que eu deixe a minha terra? Mas foi aqui que eu nasci. Gosto daqui. O Senhor quer que eu me mude para o sertão de Montana e abandone minha empresa lucrativa? Esse é o meu sustento. Isso é tudo o que eu sei fazer. O que desejas que eu faça lá? Como vou sustentar minha família? E quanto aos meus familiares e amigos? Como posso deixá-los? Mas, Senhor, isso não faz sentido."

A resposta dEle foi uma declaração bem simples: "Eu o instruirei e o ensinarei no caminho que você deve seguir; eu o aconselharei e cuidarei de você" (Salmo 32:8). Esse era um convite para uma vida de fé, dependendo continuamente dAquele lá em cima, mesmo que não fizesse sentido.

Após termos nos acomodado em Montana, a cada duas semanas durante três meses, tive de continuar viajando de volta a Wisconsin para finalizar a venda de minha empresa. Na última vez que voltei para casa, encontrei Sally abatida com pneumonia dupla e meus meninos sob o cuidado de vizinhos. Minha saúde foi afetada, e eu também contraí pneumonia dupla. Aprendemos bastante sobre tratamentos naturais durante aquele inverno e a clamar a Deus por sabedoria durante essas condições penosas.

Como se a doença não fosse suficiente, o riacho que supria nossa água congelou. Sem água, não podíamos usar o banheiro ou lavar roupa. Isso causou o congelamento de nossa fossa séptica. Nessas condições, tínhamos de derreter neve para uso geral, sair de carro para conseguir água potável, usar um banheiro externo e viajar 75 quilômetros até a cidade para lavar nossas roupas.

A pneumonia nos deixou fracos e cansados. Demorou vários meses para recuperarmos nossa força. Com a aproximação da primavera, decidi tentar fazer alguma limpeza no jardim. Sally corajosamente se ofereceu para me ajudar. Estávamos tentando mover alguns pedaços de toras, que pesavam centenas de quilos, equilibrando-os em um carrinho de mão, quando a roda bateu em um obstáculo e um pedaço caiu no chão esmagando o pé de Sally e fraturando-o em três lugares. Seis meses depois ela caiu e fraturou o outro pé. Era uma coisa atrás da outra.

"Mas Senhor... não estamos gostando disso. Está muito difícil. Parece que nos abandonaste. Será que tomamos a decisão errada?”

Todos diziam que estávamos loucos em fazer essa mudança. Do ponto de vista deles, buscar a Deus dessa maneira parecia uma loucura. Será que estávamos errados?

Precisávamos de uma conexão vital com um Deus vivo. Assim, seguimos em frente com fé, confiando não em nossos sentimentos, mas em Sua presença e em Sua promessa de nos ensinar o caminho que devíamos seguir.

Em três anos, tudo havia se acalmado. Aprendemos a clamar ao Senhor nas provas comuns de todos os dias e a agradecer por Jesus estar conosco. Aprendemos a enfrentar o "eu", admitir erros e buscar a Deus para que Ele nos ensinasse novas maneiras de reagir e lidar uns com os outros. Começamos uma rotina, estabelecemos um horário diário, iniciamos uma caminhada diária com Deus, que permitiu que nosso casamento fosse transformado.

Descobrimos que nossa experiência de estar "na igreja" tinha substituído a de estar "em Cristo." Nossa religião não era suficiente, e aqueles anos cheios de provações abriram nossos olhos, fortaleceram nossa fé e nos firmaram na principal obra de Deus, que é cuidar do casamento e da família.

O chamado de Deus ao coração é, muitas vezes, desconhecido para as pessoas ao seu redor. Você pode ser o único que sabe o que Deus está lhe pedindo naquele momento. Mesmo a sua esposa pode não saber o que o "mas Senhor" significa em sua vida. Seja o que for, você precisa lidar com essa questão. Precisamos entender que, quando decidimos não fazer uma escolha, na verdade nossa escolha foi rejeitar aquilo que Deus está pedindo que façamos.

Tem havido outros "mas" na minha vida, que Deus tem me ajudado a enfrentar. E você? Existe algo em sua vida, neste momento, que Deus está pedindo que Lhe entregue? Algum "mas Senhor" com o qual você está resistindo? O que está impedindo você? Será desistir da vida urbana com todas as suas armadilhas? Você teme a estrutura ou a disciplina de um horário diário regular? Talvez sejam velhos hábitos ou o regime alimentar. Para alguns, pode ser a pressão de colegas e a aceitação social. E para você?

Querido amigo, o evangelho não é uma doutrina ou uma igreja, mas uma vida, uma conexão vital e completa com o Deus de todo ser humano. Ele Se apoderará de todo o nosso ser se estivermos dispostos a nos entregar a Ele. Então, e somente então, poderá Deus restaurar a pessoa à Sua imagem. Esse é o verdadeiro cristianismo! Que possamos experimentar sua atuação diária em nossa vida! Que possamos nos apegar à graça habilitadora que está ao nosso alcance e não meramente esperar, mas decidir.

Jim Hohnberger, autor do livro Fuga para Deus (Casa), no qual conta como melhorou sua qualidade de vida e conquistou um relacionamento mais íntimo e autêntico com a esposa, os filhos e Deus. Mantenedor do site www.empoweredlivingministries.org.

A fonte da felicidade

Tendo nascido num lar cristão, desde cedo aprendi a importância de orar e estudar a Bíblia. Costumava fazer uma rápida oração antes das refeições, antes de dormir e no momento de leitura da Bíblia. Até cargo na igreja eu tinha aos 11 anos de idade. Sem falar nos concursos bíblicos - dificilmente alguém me superava. Para os irmãos da igreja, eu era a cristã perfeita. Para os adultos, a filha que todo pai gostaria de ter. Para meus colegas adolescentes, a “certinha”. Para mim, porém, uma pessoa vazia e infeliz.

Como muitos jovens de 18 anos, eu tinha lá meus problemas emocionais. Descobri, no entanto, que a solução não seria simplesmente fazer terapia, superar traumas ou mesmo encontrar o homem da minha vida. Teria que encontrar (ou reencontrar) o Senhor da minha vida! Mas dessa vez sem formalidades ou superficialidades. Não mais como obrigação, e sim como opção, como a solução para a crise existencial que vinha sugando minhas forças e minha vontade de viver.

Foi quando descobri a “hora tranqüila”. Seguindo o exemplo de Jesus, comecei a separar diariamente alguns minutos para abrir não apenas a Bíblia, mas minha alma perante Deus. No começo, não foi fácil, pois eu simplesmente não conseguia verbalizar meus sentimentos. Além disso, a linguagem da Bíblia e dos livros de Ellen White, que eu usava para aprofundar meu estudo, era um tanto complicada. E havia também outros empecilhos, como a preguiça, a falta de um lugar tranqüilo e a aparente falta de tempo, que o inimigo desesperadamente colocava à minha frente, na tentativa de me desviar do caminho que me levaria à fonte da felicidade.

Realmente, foi um longo processo, cheio de curvas e tombos, mas Deus não me desamparou. Lembro que, certa vez, em prantos e não vendo resultados rápidos e práticos, orei, e a resposta que Ele me deu foi: “Não tenha medo. Agüente firme e veja o livramento que o Senhor fará hoje para você” (ver Êxodo 14:13). Que promessa! Era tudo o que eu precisava, o suficiente para restaurar, naquele momento, a paz e a esperança em meu coração.

Depois daquela resposta, as coisas não mudaram de repente na minha vida, como um “passe de mágica”. Esse é um processo gradual. Hoje, por exemplo, ainda tenho momentos de tristeza, é claro. A diferença é que esses momentos estão se tornando cada dia mais passageiros e incapazes de destruir minha paz e alegria. E sabe por quê? Porque agora tenho uma experiência diária, verdadeira, íntima, vibrante e pessoal com Jesus!

Agora procuro prevenir em vez de remediar, tendo minha comunhão pessoal com Deus diariamente, porque sei que a “experiência de ontem não me salvará das provações de hoje” (Jim Hohnberger, Fuga Para Deus, p. 60). Agora não fico escondendo de Deus os meus erros, porque finalmente O conheço de verdade e sei que posso abrir o coração a Ele como a um amigo (Ellen White, Caminho a Cristo, p. 93). Agora não sou mais aquela cristã apática de antes, sem vontade de estudar a Bíblia, ir à igreja ou testemunhar, porque descobri um cristianismo vibrante e contagiante. Agora não me chamo cristã simplesmente porque herdei essa religião dos meus pais, mas porque descobri, por experiência própria, que a melhor escolha é seguir a Cristo.

A Palavra de Deus afirma: “Em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa salvação; na tranqüilidade e na confiança a vossa força” (Isaías 30:15). Graças a Deus, muitas outras pessoas também estão praticando a hora tranqüila e desfrutando das mesmas bênçãos. E você, o que está esperando?

Marily Sales dos Reis

Descansar em Deus

Enquanto voltávamos de um fim de semana com nossos pais, minha esposa e eu aprendemos uma grande lição a respeito do que significa descansar em Deus. Na rodoviária de Curitiba, enquanto aguardávamos o ônibus para Florianópolis, havíamos comprado antecipadamente as passagens de volta da capital paranaense para Tatuí, onde moramos. No entanto, no dia da volta, o ônibus de Florianópolis para Curitiba atrasou e perdemos nossa segunda condução por questão de poucos minutos. E com ela, uma parte de nossas economias.

É verdade que, à medida que nos aproximávamos da rodoviária de Curitiba, eu orava a Deus para que chegássemos a tempo e tinha quase certeza de que meu pedido seria atendido (como já acontecera em tantas outras situações). Mesmo assim, era difícil não me deixar envolver pelo sentimento de ansiedade.

A chuva tornava o tráfego ainda mais lento, e parecia que todos os semáforos estavam fechados. Quando faltavam apenas minutos para nosso ônibus com destino a Tatuí partir, elevei meus pensamentos a Deus mais uma vez: “Senhor, ajuda-me a descansar em Ti e aceitar Teus propósitos para nossa vida.” Mas quando chegamos à rodoviária, o ônibus tinha partido havia dois minutos. Quase inconscientemente perguntei: “Por que, Senhor?”

Deixamos nossa bagagem num canto. Abraçados, e nitidamente tristes, ficamos de pé, em frente ao guichê da empresa de ônibus. Naquele momento, sem que percebêssemos, uma senhora idosa, mendiga, aproximou-se. Olhou para minha esposa e perguntou: “Por que você está triste, filha?” Minha esposa explicou nossa situação, e a simpática velhinha lhe deu um abraço, dizendo:

– Não fica triste, não. Olha para mim... Vivo por aí, pedindo ajuda aos outros, mas sei que Deus cuida de mim. O importante é nos apegarmos a Deus, pois não sabemos o que Ele tem para nós lá na frente.

Eu mal podia acreditar. É verdade que havíamos perdido algum dinheiro e chegaríamos bem mais tarde em casa. Mas, afinal de contas, tínhamos uma casa, uma cama confortável, comida e um chuveiro quente nos esperando. E ali estava aquela mulher – que talvez nem tivesse um lar para onde voltar – confortando-nos e nos dando esperança.

Enquanto ouvia a velhinha, alguns textos bíblicos me vieram à mente: “Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8:28); “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nEle e o mais Ele fará” (Salmos 37:5); “O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará” (Salmos 23:1); etc. E percebi o quanto precisava aprender sobre esses versos tão bonitos, os quais são fáceis de recitar de cor quando tudo vai bem.

Descansar em Deus não deve ser somente uma bela frase ou mera teoria. Nem tampouco deve ser apenas uma forma de nos consolar nas situações difíceis. Mas deve ser a certeza de que Deus cuida de nós em todos os momentos; de que o futuro não precisa ser temido, pois Deus já está lá.

A escritora Ellen G. White nos assegura que “sob todas as circunstâncias podemos ter firme confiança em Deus, de que Ele nunca nos deixará nem nos abandonará enquanto preservarmos nossa integridade”. (Testimonies for the Church, v. 3, p. 292 e 293). E no livro O Desejado de Todas as Nações, p. 528, ela diz: “A todos quantos estão buscando sentir a mão guiadora de Deus, o momento do maior desânimo é justamente aquele em que mais perto está o divino auxílio. ... De toda tentação e de toda prova, tirá-los-á Ele com mais firme fé e mais rica experiência.”

Agradeço ao Senhor por aquela experiência na rodoviária de Curitiba, e pela velhinha que Ele enviou para nos confortar e ajudar a entender que descansar em Deus é mais do que um simples conceito: é reconhecer que Deus é o Senhor do espaço e do tempo, e dirige nossa vida tendo em vista nosso bem eterno.

Michelson Borges, jornalista, autor do livro A História da Vida (Casa) e mantenedor do blog www.michelsonborges.com.

quinta-feira, setembro 25, 2008

Síndrome de Michael

Um misto de compaixão e sensação de a justiça ter se realizado veio à minha mente quando eu vi Michael (nome fictício) entrar na quadra.

É preciso explicar que a entrega de boletins de nosso colégio realizou-se na quadra de esportes. Nós, professores, nos assentamos a mesas nas quais cartazes foram colados contendo o nome de nossa disciplina. A programação se desenrolava imperturbavelmente.

Foi quando entrou a mãe de Michael. Em poucos minutos, com o boletim do filho nas mãos, ela percorria as mesas espalhadas pelos cantos da quadra, falando com cada professor. Seu ar trazia uma espécie de decepção contagiante. Depois, enquanto eu conversava com o irmão de Michael, o próprio chegou.

Michael vinha de mansinho, como quem sabe o que lhe espera. Eu e outro professor começamos a conversar com ele. Não estou falando de um aluno com problemas de aprendizagem. Michael, como outros adolescentes, não gosta de estudar. O rapaz acostumou-se a não se preocupar, porque no final ele pode alcançar a média através da recuperação paralela. Só que no presente bimestre, Michael descuidou tanto de seus estudos que, quando quis recuperar, já era tarde. “E você não sabia que seu boletim viria com notas ruins?”, perguntei a Michael. “Saber, eu sabia”, foi sua resposta. “Mas achei que daria um jeito no final”, ele completou, estarrecido diante de seu próprio resultado escolar.

Você já se deu conta de que coisas assim não acontecem somente a adolescentes em relação a seus estudos? Você trabalha e não tem hora para almoçar. Não consegue mais se comunicar com sua esposa, que também vive presa às suas próprias atividades. Um dia, vocês acordam e se olham – o espanto é tão grande que um não estranharia se o outro lhe perguntasse o nome. O casamento acaba, porém você não é pego de surpresa. Você sabia que as circunstâncias conduziam o relacionamento a um fim prematuro. Acontece que você simplesmente achou que daria um jeito no final.

Considere isto: uma ferramenta para avaliar a acuidade de nossas escolhas é a análise prévia das consequências que elas trarão. Se levarmos a sério essa análise, por uma questão de racionalidade seremos forçados a ajustar nossa conduta para atingirmos o fim desejado. O problema é que a maioria das pessoas não usa de racionalidade, embora não deixe de enxergar os resultados de suas escolhas a longo prazo. Já ouvi pessoas dizerem que preferem continuar fumando, mesmo correndo o risco de morrerem vitimadas pelo câncer. “Ninguém vive para sempre”, argumentou certa vez um senhor quando lhe perguntei porque ele não parava de fumar, apesar das advertências feitas por um médico.

A irracionalidade nas escolhas leva a um desajuste entre nossa postura e nossa expectativa. Ninguém quer ser infeliz, contrair doenças mortais ou sofrer com um divórcio, mas, através de seu modo de vida, as pessoas projetam esses males. Chamo o desalinho entre escolha e expectativa de “síndrome de Michael”. Os portadores da síndrome de Michael sempre contam com resultados inesperados, soluções de última hora, intervenções mágicas – até que a realidade lhes dê um forte soco no estômago.

Mesmo no campo espiritual, impera a mesma lógica de racionalidade: colheremos o que plantarmos (Gálatas 6:7-9). Não se trata de salvação pelas obras. É questão de coerência. Somos constantemente lembrados de que haverá um julgamento e, em razão da expectativa em torno desse evento, temos de ajustar nossa conduta. Sendo impossível fugir da “ira futura”, resta viver para produzir o “fruto que mostre o arrependimento” (Mateus 3:7 e 8; NVI).

Dentro dessa perspectiva, o apóstolo Pedro formulou a pergunta mais sensata: “Visto que tudo será assim desfeito, que tipo de pessoas é necessário que vocês sejam?” Felizmente, o mesmo Pedro nos fornece a resposta: “Vivam de maneira santa e piedosa, esperando o dia de Deus e apressando a sua vinda” (2 Pedro 3:11 e 12; NVI). Somente avaliando previamente a solenidade da volta de Jesus (“o dia de Deus”), poderemos reajustar nossa vida pela fé, sendo o tipo de pessoa que viva de modo santo e piedoso. Será o suficiente para superar a síndrome de Michael em nossa vida espiritual.

(Douglas Reis, pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia e mantenedor do blog Questão de Confiança.)

Mais bênçãos

Tem sido comum o cristão clamar por bênçãos. Afinal, Deus as prometeu.

Aliás, bênçãos é um tema que conquista qualquer auditório. Pois assim somos nós, cristãos: clamamos o tempo inteiro, queremos mais do trono de Deus, queremos ser abençoados em tudo, queremos mais e mais e mais...

Errado? Claro que não. O filho tem que buscar o Pai, clamando por suas promessas.

Mas cristianismo não é só isso. É mais. Nós não somos um bando de filhotes de pássaros, que ficam amontoados em seus ninhos, piando à espera do alimento. Somos mais que isso.

Se você, hoje, está pedindo uma benção, está clamando um milagre à Deus, permita-me propor uma questão: Você já deu tudo o que tem para o Senhor?

Quer um carro novo. Mas já depositou o atual aos pés de Jesus? Quer um rendimento melhor. Mas o salário até agora recebido tem sido utilizado em honra a Deus? Quer mais saúde. Mas sua vida tem sido usada para a causa de Deus? Quer mais dons. Mas o dom que possui está sendo usado em louvor a Deus?

“Tenho uma surpresa para vocês”, eu disse para meus pequenos filhos antes do almoço. Obviamente, eles alvoroçaram. Então, falei que só ganhariam a tal surpresa depois do almoço. Foi uma das refeições mais tumultuadas da minha vida.

“Eu não quero almoçar”, disse a Lívia, de chofre. “Eu também não”, embarcou na onda o mais novo (Kalel).

Sem chance. Teriam que comer primeiro. “Terminei”, dizia um a cada dois minutos. “Já enchi”, falava o outro, ainda mais rápido.

“Não vai ter surpresa pra ninguém”, esbravejei, perdendo a paciência diante de uma cena que eu mesmo orquestrei.

Eles tinham uma lauta refeição diante deles, mas queriam mais. Não tinham nem aproveitado o que estava em suas mãos e já clamavam pela minha promessa de surpresa.

Respirei, olhei fixamente para eles e pedi: “Almocem, por favor. Se vocês não almoçarem, não vou poder cumprir com minha promessa, pois a surpresa é para aqueles que comerem direitinho.”

Eles acalmaram (os “terminei” e “já enchi” passaram a ter um intervalo um pouco maior).

Depois de comerem (e lavarem boca e mãos), ganharam a prometida surpresa (aquele ovo de chocolate com brinquedo dentro – ou, melhor dizendo, aquele brinquedo coberto com um ovo de chocolate).

Pode acreditar, eu queria dar a “surpresa” tão logo cheguei em casa. Mas, se eu fizesse isso, ninguém almoçaria do verdadeiro alimento.

Refletindo sobre o assunto, lembrei-me da “mulher pecadora” (Lucas 7:37 em diante), que comprou um vidro caríssimo de unguento e o depositou aos pés de Jesus. Ela não pediu nada. Deu tudo o que tinha e derramou todo o perfume aos pés do Mestre. Depois disso, enxugou-os com seus cabelos.

O que ela estava pedindo naquele momento? Nada. O que ela queria? Uma coisa bem simples: estar perto do Mestre.

Querer bênçãos sem se dispor a estar perto de Jesus é inútil. Querer ser abençoado sem depositar tudo o que temos, sem nos alimentarmos do verdadeiro alimento, é uma ilusão.

Quanto mais nos dedicamos, quanto mais nos embrenhamos na obra de Deus, quanto mais damos de nós para Deus, mais somos abençoados.

Os mesquinhos, aqueles que guardam apenas para si o sucesso, a saúde e os bens que possuem, não podem alcançar bênçãos vindas, verdadeiramente, do trono de Deus.

Atualmente, só consigo ver uma maneira de receber mais: dar mais, pois Deus promete algo chamado RESTITUIÇÃO. E Ele só pode restituir aquilo que depositarmos aos Seus pés.

Eu gostaria de convidá-lo para, junto de mim, depositar tudo o que temos aos pés de Jesus e orarmos: Eis-me aqui, Senhor. Tudo o que sou, tudo o que tenho agora é Teu. Usa-me da forma mais intensa possível, pois sou Teu. Meus bens, meus dons, minha família e tudo o que tenho coloco no Teu altar, para servir a Ti. Estou aos Teus pés e aqui quero estar para sempre. Abençoa-me à medida que demonstro estar crescendo, pois, sendo fiel com o pouco que tenho, pretendo ser com as muitas bênçãos que virão. É minha oração, em nome de Jesus, amém.

Quando Jesus ressuscitou, aquela “mulher pecadora” foi a primeira que o viu. Não foi por acaso. Foi em virtude de ela ter entregado tudo ao Mestre.

Quando Jesus voltar, os que se entregaram por completo estarão entre os primeiros a abraçá-lo.

(Denis Cruz, mantenedor do blog IASD Mundo Novo e autor do livro Além da Magia.)

quarta-feira, junho 04, 2008

A arte de calar

É sinal de inteligência e sabedoria falar pouco, falar bem e não falar mal de ninguém.

Contudo, calar-se é ainda mais importante, quando calar-se é dizer tudo.

Há quem se cale por não ter realmente nada para nos dizer, mas há também quem se cale por omissão, quando seria um dever falar, escrever, gritar, colocar a boca no trombone, como se dizia antigamente.

Calar-se na hora certa e pelos motivos certos é uma verdadeira arte cujas regras um pequeno livro do Abade Dinouart quer nos transmitir. Autor francês do século XVIII, suas admoestações para que façamos silêncio ainda hoje são pertinentes.

Sutileza não lhe falta. Ao mesmo tempo que recomenda o silêncio, lembra que há silêncios falsos, aqueles que simulam uma sabedoria que, de fato, inexiste. Nem sempre calar-se significa profundidade de pensamentos. Pelo contrário, é camada de verniz que recobre um vazio sepulcral.

Mas há ainda outros silêncios, e alguns deles diabólicos. Há o silêncio manipulador, o silêncio torturante, o silêncio chantagista, o silêncio rancoroso, o silêncio conivente, o silêncio da zombaria, o silêncio imbecil, o silêncio do desprezo. Há pessoas que matam com seu silêncio. Há silêncios que esmagam a justiça e a bondade, na calada da noite.

Por isso o silêncio rico de significado é ainda mais apreciável e luminoso.

Falo do silêncio que prenuncia novas palavras.

Falo do silêncio que é solidariedade na dor.

Falo do silêncio que soluciona cisões.

Falo do silêncio que pergunta.

Falo do silêncio que perdoa.

Falo do silêncio que ama.

O silêncio mais puro é aquele que guarda a confidência. Este silêncio jamais é excessivo. Não se deve apregoar aos quatro ventos o que foi murmurado na intimidade da amizade e do amor.

O silêncio mais sábio é aquele que fazemos diante dos impertinentes, intolerantes e desbocados. É o silêncio do Cristo inocente diante dos acusadores, o silêncio dos espaços infinitos diante da quase infinita capacidade nossa de falar ou escrever sem razão.

Calar da maneira certa é deixar que uma voz mais profunda seja ouvida. A voz severa, a voz serena, a voz suave e firme da verdade.

O verdadeiro silêncio diz a verdade que não se pode calar.

O verdadeiro silêncio nunca será cedo demais.

Quero ouvir o silêncio que tudo explica.

(Gabriel Perissé, escritor e doutor em Filosofia da Educação. Texto publicado no site Kplus.)

Nota: "Sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se. [...] Se alguém se considera religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo. Sua religião não tem valor algum!" (Tiago 1:19, 26)

sexta-feira, maio 16, 2008

Planeta Terra em trabalho de parto

Quem não fica estarrecido ante a quantidade, diversidade e gravidade de tragédias noticiadas a cada dia na mídia? Terremotos, ciclones, maremotos, guerras, assassinatos... Você já ouviu essa história antes?

Diante de tanta calamidade, os cristãos exclamam: “É o fim do mundo!” Em contraposição, os céticos rebatem: “Que fim de mundo que nada! Sempre houve guerras e terremotos. Há décadas se fala do fim do mundo, e até agora nada...”.

De fato, nada disso é novidade. Por isso é que a Bíblia diz: “Vocês ouvirão falar de guerras e rumores de guerras [...] mas ainda não é o fim. Nação se levantará contra nação, e reino contra reino. Haverá fomes e terremotos em vários lugares. Tudo isso será o início das dores” (Mateus 24:6-8; ênfase acrescentada).

Que dores? Paulo responde: “[...] a destruição virá sobre eles de repente, como as dores de parto à mulher grávida”
(1 Tessalonicenses 5:3; ênfase acrescentada).

A Bíblia usa a metáfora das dores de parto para nos ajudar a entender quando e como ocorrerá o fim do mundo. É como se o mundo fosse a mulher grávida e as dores de parto, as tragédias.

Quando?

Assim como a mulher grávida não sabe exatamente quando seu filho decidirá nascer, nós também não sabemos quando será a vinda do Filho de Deus. A única coisa que sabemos é que “o dia do Senhor virá como ladrão à noite” (1 Tessalonicenses 5:2) – ou seja, repentinamente, sem data marcada.

Como?

Eu nunca passei pela experiência da maternidade. Então não posso dizer, por experiência própria, quanto dói dar à luz. O que eu sei é que a maioria das mulheres recorre à cesárea exatamente para fugir da dor.

Para as “contrações” do planeta Terra, porém, não há escapatória. “Toda a natureza criada geme até agora como em dores de parto.” (Romanos 8:22). Se isso já era verdade na época de Paulo, muito mais agora. E é aí que eu quero chegar.

As catástrofes ambientais e as crises econômicas, sociais e morais realmente sempre existiram, mas nunca tão intensas. Logo, se o aumento das dores de uma parturiente indicam que o bebê está chegando, o aumento do sofrimento do mundo, segundo a Bíblia, é um sinal de que Jesus está voltando.

Não haverá mais dor...

À primeira vista, tudo isso pode parecer aterrador, da mesma forma que para mim, uma aspirante a mamãe, é assustadora a idéia de passar pelas dores do parto. Mas pergunte a uma mãe que acabou de dar à luz: “Valeu a pena tanta dor?”. Nem é preciso palavras. O sorriso estampado em seu rosto enquanto contempla extasiada aquele pequeno ser, recém-chegado ao mundo, diz tudo.

Embora a dor seja grande, ela é passageira. Em breve, “não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor” (Apocalipse 21:4). Por isso, Jesus nos motivou: “Quando começarem a acontecer estas coisas, levantem-se e ergam a cabeça, porque estará próxima a redenção de vocês” (Lucas 21:28).

Acredite: por maior que seja o sofrimento hoje, a alegria de amanhã será incomparavelmente superior! Não perca isso de vista.

Marily Sales dos Reis

Nota: Veja outros artigos relacionados com este assunto e algumas evidências históricas e arqueológicas de que as profecias bíblicas são confiáveis:

Sinal dos tempos
O mês das tragédias
O mês das tragédias II
Arqueologia
O tempo do juízo

terça-feira, março 18, 2008

Solidão necessária

Como expressa bem o texto abaixo, publicado hoje na Folha de S.Paulo, "sozinho" não significa necessariamente "solitário". Ficar sozinho de vez em quando, longe de distrações, barulho e falação, é necessário – para sonhar, planejar, refletir, reavaliar, melhorar.

O silêncio, em alguns casos, também é sinônimo de sabedoria. Como adverte Salomão, a tagarelice pode ser “como pontas de espada, mas a língua dos sábios é medicina” (Provérbios 12:18). “Até o estulto, quando se cala, é tido por sábio, e o que cerra os lábios por entendido” (Provérbios 17:28).

Acima de tudo, o silêncio é imprescindível para ouvir a voz de Deus. Era no silêncio da madrugada que Jesus obtinha forças para enfrentar as provações do dia. Após a multiplicação dos pães, “tendo despedido a multidão, subiu sozinho a um monte para orar. Ao anoitecer, ele estava ali sozinho” (Mateus 14:23). Em outra ocasião, também “de madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi para um lugar deserto, onde ficou orando” (Marcos 1:35).

É uma pena que hoje em dia as pessoas fujam tanto do silêncio e da introspecção, inclusive nas igrejas.

(Marily Sales dos Reis)

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O silêncio

O vento frio, aos golpes, anunciava que o inverno estava se aproximando. Nuvens cinzentas cobriam os Alpes, como navios que navegavam velozes, levadas pelo vento. Era um velho mosteiro de freiras que praticavam o silêncio, costume abençoado que libertava as pessoas da obrigação de conversar com os vizinhos às mesas de refeições. Não ser obrigado a conversar é uma felicidade.

É raro que as pessoas entendam isso. Eu iria dar uma fala, faltava ainda meia hora e procurei um lugar escondido onde pudesse ficar quieto com os meus pensamentos. Achei-o sob uma escada, quase invisível e ali me escondi. Foi então que uma pessoa delicada me viu ali sozinho e bondosamente pensou: "O professor Rubem Alves está abandonado..." Dois minutos depois meu refúgio estava cheio de pessoas falantes que destruíram a minha solidão... Os tagarelas alegres são emissários do demônio porque com suas palavras tolas eles nos tiram das águas profundas em que nos encontrávamos. Deus é o Grande Mar. A alma é um peixe. Os poetas sabem disso.
T.S. Eliot escreveu: "Nosso olhar é submarino. Olhamos para cima e vemos a luz que se fratura através das águas inquietas..."

Hóspede naquele mosteiro, eu deveria obedecer aos horários e participar dos eventos. Um deles me horrorizou: participar das celebrações litúrgicas às 6h, às 12h e às 18h.

O santuário era um velho celeiro de madeira octogonal, muito grande e escuro, sem janelas. Os arquitetos, para pôr luz nas sombras, abriram buracos nas paredes, cobrindo-os com vidros coloridos. A luz do sol, entrando pelos orifícios e atravessando os vidros coloridos, faziam desenhos no espaço vazio, desenhos que se deslocavam à medida em que o sol caminhava pelo céu.

Os bancos, poucos, seguiam três lados do octógono; a mesa, iluminada com velas, tinha no seu centro um ícone de Jesus ao estilo bizantino. Cheguei no horário. Poucas pessoas. Os mosteiros não são lugares que atraiam turistas.

Fiquei à espera do início da liturgia, que deveria iniciar-se suiçamente ao repicar dos sinos às 6h da manhã. Os sinos repicaram mas nada aconteceu, nenhuma reza, nenhum hino, nenhuma leitura bíblica. Pus-me a examinar o espaço e as luzes que se entrecruzavam. O exercício de simplesmente ver tem o efeito de fazer parar o pensamento. Alberto Caeiro já dizia que "pensar é estar doente dos olhos..."

Os pensamentos, produtos internos da cabeça, são perturbações que distorcem a pureza da visão.
Aí, ao misticismo do ver seguiu-se o misticismo do ouvir. O vento descia furioso das montanhas, em golpes, lufadas que torciam a estrutura de madeira, provocando aqueles ruídos típicos de navios à vela batidos pelo vento. Ao lado do santuário havia uma plantação de macieiras nuas, o vento havia arrancado suas folhas todas, somente seus galhos pelados ficaram. Quando o vento sacudia a galharia era como se houvesse um mar enraivecido quebrando ondas. Aí os sons e as cores começaram a invocar poemas ancestrais. "E a terra era um abismo sem forma e o vento de Deus soprava violentamente sobre a superfície das águas... E disse Deus: "Haja luz..." E aí meus pensamentos foram possuídos pela poesia.

Mas e a liturgia? Já eram 6h20. Percebi então que a liturgia havia começado às 6h, quando os sinos tocaram... Só silêncio...

(Rubem Alves, educador, escritor, psicanalista e professor emérito da Unicamp. Texto publicado na Folha de S.Paulo.)